terça-feira, 24 de março de 2009

Jeitinho Brasileiro

Nenhum cidadão defende a corrupção e em todas as nações tendem a tratá-la como um mal a ser combatido. Pois bem, a 42ª Edição da Revista de História da Biblioteca Nacional (RHBN), que circula este mês, coloca o `dedo na ferida' e por meio de um fórum, com artigos de autorias diversas - do antropólogo Roberto DaMatta, do professor Leonardo Avritzer da UFMG e do teólogo Lourenço Stelio - aborda o chamado `jeitinho brasileiro' como uma forma de corrupção que, de certa forma, já faz parte de nossa cultura.Buscando os vários sentidos que a corrupção teve ao longo de nossa história, a matéria relembra alguns casos famosos no cenário nacional e frases que já fazem parte do imaginário popular, como "rouba, mas faz" e "você sabe com quem está falando?", e traz uma abordagem sobre esse tema que, muitas vezes, é empurrado para `debaixo do tapete' ou relacionado exclusivamente à política e ao serviço público.DaMatta defende que o mesmo jeitinho que possibilita facilitar o dia-a-dia, também dificulta a relação do brasileiro com a lei. "O jeitinho se confunde com corrupção porque desiguala o que deveria ser tratado com igualdade", afirma o antropólogo.Já Avritzer ressalta outro aspecto da questão: a punição. Segundo o professor, o comportamento do brasileiro ao privilegiar as relações familiares mesmo que isso signifique desrespeitar as regras públicas é o que mais propicia a corrupção.Por sua vez, Stelio acredita que "o jeitinho brasileiro precisa de redenção" e destaca que o mal vem desde os primórdios da nação quando na carta redigida para comunicar o Descobrimento do Brasil Caminha aproveitou para pedir ao Rei de Portugal emprego para um parente. "Temos que investir desde o berço em cidadania e respeito à população e à legislação", opina em seu artigo.A historiadora Isabel Lustosa, da Fundação Casa de Rui Barbosa, escreveu o artigo Faz-me rir, no qual argumenta que as caricaturas mostram a cara da corrupção. No entanto, questiona se as caricaturas brasileiras estimulam a crítica em relação à corrupção: "Gaiata, moleque, mais humorística do que satírica, foi quase sempre benevolente com seus alvos".No artigo Falso Moralismo, a professora de História da UFMG, Heloisa Maria Murgel Starling, discute a corrupção na ditadura militar, que começou em 1964 com a promessa de combatê-la, além do comunismo. Explica que a noção de corrupção para os militares estava ligada ao mau trato do dinheiro público. Lembra, contudo, que a tortura dependia de práticas ilícitas.Na matéria ainda está destacado que esse tema, porém, não é exclusivo do Brasil e para confirmar traz um `corrupcionário' , espécie de dicionário sobre a corrupção com expressões de outros países e épocas. Por exemplo, em Angola, a expressão `dar gasosa' significa subornar e, no Brasil Império, um falso eleitor que votava em lugar de outro era conhecido como `Fósforo'.Além da reportagem Corrupção: Crime ou Costume, a edição de março da publicação oferece ao leitor outros temas interessantes como Nasce um líder das esquerdas, sobre a vida política de Leonel Brizola; Dieta de fome, que faz uma comparação entre os cardápios de ricos, escravos e pobres no Brasil Colônia; e a entrevista Alma mambembe, na qual Sula Mavrudis fala sobre a cultura circense.RHBN - Desde o seu lançamento, em 2005, a Revista de História da Biblioteca Nacional oferece informação qualificada com reportagens, matérias e artigos assinados por personalidades brasileiras. A publicação conta com a chancela e o rico acervo iconográfico da Biblioteca Nacional. Sua linguagem e forma de apresentação conquistaram um público abrangente independentemente de formação educacional ou área de atuação profissional. Única em seu segmento editorial e especializada em História do Brasil, a RHBN tem periodicidade mensal. O conteúdo integral de todas as edições pode ser acessado no endereço eletrônico www.revistadehistor ia.com.br.

domingo, 22 de março de 2009

Cantai esse verso puro que se ouvirá no Amazonas, na choça do sertanejo e no suburbio carioca, no mato, na vila X, no colégio, na oficina, território de homens livres que será nosso país e será pátria de todos. Irmãos, cantai esse mundo que não verei, mas virá um dia, dentro em mil anos, talvez mais... não tenha pressa. Um mundo enfim ordenado, uma pátria sem fronteiras, sem leis e regulamentos, uma terra sem bandeiras, sem igrejas nem quartéis, sem dor, sem febre, sem ouro, um jeito só de viver, mas nesse jeito a variedade, a multiplicidade toda que há dentro de cada um. Uma cidade sem portas, de casas sem armadilha, um país de riso e glória como nunca houve nenhum. Este país não é meu nem vosso ainda, poetas. Mas ele será um dia o país de todo homem. (Carlos Drumonnd de Andrade)